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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Entrevista com o professor Luiz Cláudio Gomes de Abreu sobre o Programa Tecnologia Comunicação Educação


 Para o professor Luiz Cláudio, o campus está diante de um "mega" desafio (Foto: Diomarcelo Pessanha)

Computador, quadro inteligente, rede sem fio, programas diversos, banda larga, vídeo, áudio, texto. Todo esse aparato tecnológico e possibilidades comunicacionais estão disponíveis para professores, alunos e escola. No entanto, pesquisadores percebem que a forma de ensinar recorrendo à tradição permanece em plena era das redes sociais e da abrangência sem precedentes da internet. Com base nessa percepção, o Campus Campos Centro do IF Fluminense decidiu investir na ousada iniciativa de conceber um novo professor, uma  nova prática pedagógica que saiba tirar proveito dos elementos citados acima. O Programa Tecnologia Comunicação Educação já tem um Plano de Trabalho e já foi apresentado à Câmara de Ensino do IF Fluminense. Um de seus desenvolvedores, o Coordenador Adjunto da Diretoria das Licenciaturas do campus, professor Luiz Cláudio Gomes de Abreu deu a seguinte entrevista à Comunicação Social do Campus Campos Centro sobre o assunto:  

Comunicação Social do Campus – O que se pretende com esse programa?

Luiz Cláudio Gomes de Abreu – O objetivo do programa é abrir uma discussão para que a gente possa repensar o processo de gestão do conhecimento na sala de aula. Uma vez que a gente tem uma sociedade que hoje está complemente inundada por essas tecnologias, uma construção mediática que não dá para se ignorar, temos de pensar: como é que eu utilizo as tecnologias na sala de aula?

Comunicação - O que se propõe é uma mudança formidável de paradigmas?

Luiz Cláudio - A grande questão é: o que eu faço com essa tecnologia? Será que o professor vai continuar a ser o transmissor do conhecimento? Ou seja, manter aquela aula frontal, com o aluno receptor passivo? Ou essas novas mídias estão redefinindo o conceito de receptor?

Comunicação - É possível que enquanto estamos discutindo modelos, as novas gerações já tenham respostas que o professor convencional não visualiza?

Luiz Cláudio – Tem um pesquisador americano que lança uma questão muito interessante quando identifica os nativos digitais e os migrantes. A gurizada que já nasceu com essas tecnologias tem uma outra concepção de comunicação, de recepção. Eles têm uma facilidade de envolver textos, som e imagem e criar com isso uma nova forma de construção da informação com facilidade muito maior que os imigrantes digitais. Nós precisamos aprender como é que se vive nessa sociedade mediatizada. Agora, não dá para acreditar que só o verniz tecnológico na sala de aula vai resolver.

Comunicação - Daí que...

Luiz Cláudio – Nós precisamos começar de algum lugar. Ninguém tem um modelo: o uso da tecnologia na sala de aula vai ser assim e ponto. Estamos num processo de construção. Até porque não é só com uma área do conhecimento que estamos trabalhando. Tenho de pensar em gestão do conhecimento - uma área basicamente da educação - nas teorias da comunicação, ou seja, como é que eu redefino o processo comunicacional diante dessas novas tecnologias e é também uma questão da psicologia, porque tenho de pensar como é que esse novo sujeito da contemporaneidade aprende

Comunicação – O programa envolveria vários agentes...

Luiz Cláudio – É um programa multidisciplinar, daí sua complexidade e o fato de não termos um modelo pronto. Mas precisamos começar de alguma coisa. Precisamos pensar o uso dessas tecnologias a partir da redefinição das linguagens que são possíveis com elas.

Comunicação – Como vocês estão trabalhando?

Luiz Cláudio – Existe uma perspectiva inicial a ser debatida com a vinda do professor Marco Silva, nesse dia três de agosto; a perspectiva de transformar todas as salas de aula em multimídias, o antigo espaço da multimídia passa a ser o da produção do conhecimento. Deveremos sempre buscar o lastro com pesquisadores que já fazem uso da tecnologia da informação no processo pedagógico e nós deveremos ter também profissionais que possam ajudar os nossos professores na construção do material que vai ser utilizado nessas salas interativas. Isso seria no espaço de produção mediativa, que é esse da antiga multimídia.

Comunicação – Essas seriam as questões essenciais?

Luiz Cláudio - Há a ideia de que a gente trabalhe com os colegas professores que iriam alimentando esse programa diariamente, esse espaço de produção, e a partir daí a gente redefiniria essas questões ligadas à implementação das tecnologias e à educação. Na realidade existe uma discussão que é a do educomunicador. Um profissional que seja não só o comunicador, nem só o educador, mas uma interface entre comunicação e educação. É esse profissional, o educomunicador, que nos parece ser o que temos de mais avançado hoje no sentido de pensar esse uso das tecnologias no processo educacional.

Comunicação – O educomunicador sintetiza tudo?

Luiz Cláudio – Essa é uma das possibilidades. Mas existem múltiplas. Umas muito interessantes e outras nem tanto, no sentido de acreditar que as tecnologias vão substituir o professor. É um equívoco muito grande. A tecnologia parece chegar como uma ferramenta para repensar essa sala de aula, repensar o processo de construção do conhecimento a partir dessas novas possibilidades.

Comunicação – E tem o conflito de gerações...

Luiz Cláudio – A garotada está aprendendo. Como eles fazem isso? Esse conceito de aprender é uma questão muito interessante. Durante muito tempo a sala de aula se construiu num aprender por repetição de tarefas que alguém chegava com o conhecimento transmitia e o aluno repetia essa tarefa. Acho que agora parece muito importante focar no processo de construção do conhecimento a partir dessa nova realidade. Os nativos digitais constroem o conhecimento e aprendem a se comunicar de uma forma completamente diferente que as gerações anteriores.

Comunicação – O grande desafio é fazer com que as pessoas se adaptem a uma nova realidade?

Luiz Cláudio – Acho que é um mega desafio. Na realidade a nossa tendência é de perpetuar aquele modelo em que fomos formados. Os nativos digitais constroem o conhecimento me parece que de outra maneira. E não adianta a gente impor a eles uma cultura que é nossa. Envolve múltiplos campos do saber. Como concatenar isso? Essa é a grande questão. Nós fomos alfabetizados com uma cultura basicamente escrita. O semioticista Arlindo Machado fala da existência de uma literolatria que é um culto à palavra escrita. Como vamos nos adaptar a uma realidade mediatizada, onde o processo de construção e de entendimento da realidade parece que encontra uma outra ordem?

Comunicação – Como assim?

Luiz Cláudio- Se você pegar, por exemplo, uma geração com cultura escrita, qual é o caminho de entendimento de uma realidade? A partir de uma construção, por exemplo, da leitura linear de um livro onde tenho uma rota a ser seguida. Quando entro agora na rede (internet) tenho múltiplos caminhos. E qual a ser seguido? Parece que agora não tenho mais uma rota a ser trilhada, mas preciso construir essa rota. Esse é um dos grandes problemas. Vou ter um professor que vai dizer: vamos por aqui e por lá, ou tenho múltiplas possibilidades de construir o conhecimento?

Comunicação – Pode ser muito mais complexo do que se imagina.

Luiz Cláudio - Dá para a gente ter uma noção do problema que temos no sentido de que esse professor é que vem trazendo como única fonte o conhecimento. Agora, é possível dar sentido a múltiplas informações que estão aí? Essa ferramenta, a tecnologia da informação nos computadores, permite um universo caótico com muitas informações que eu preciso ressignificar, dar sentido.

Comunicação – Afinal, como seria esse ‘novo’ educador?

Luiz Cláudio - Esse novo sujeito da educação é alguém que precisa dar sentido a esse conhecimento, a essas informações. E aí muda o conceito de aprender. Não aprender como repetir, mas aprender como construir a partir de uma realidade multifacetada dando um sentido a ela. Daí a necessidade de estabelecer as competências necessárias, como consigo agregar essas informações, organizar, transformar as informações em conhecimento e saber dar uso ao conhecimento. Acho que essa é uma das possibilidades que talvez o programa a médio e longo prazo vá trazer.   

Um comentário:

Rafael Pereira disse...

Sobre o novo Programa Tecnologia Comunicação Educação não poderia concordar mais que estamos num momento de mudança tecnológica, a nova era da informação chegou, e essa ferramenta não está apenas nas mãos do educadores, mas do corpo dicente.
A troca de informação se mostra tão assídua nos dias atuais que muitas nos passam desapercebidas, é hora de otimizar esse tempo em sala de aula. Nada melhor que usar toda tecnologia disponível a nosso favor para integrar educadores e alunos num ambiente amistoso, com mútuas trocas.

Sou aluno do Instituto Federal Fluminense e me orgulho desse grande passo que está sendo dado.
Ofereço total apoio ao professor Luiz Cláudio, Diretor Jefferson de Azevedo e equipe.

Rafael Pereira